Quantas vezes você ouviu a fatídica pergunta: “o que você quer ser quando crescer?”.
Na infância, essa dúvida deve ter lhe despertado sonhos, intensificado desejos e até programado possíveis destinos. Quando adolescente, porém, só pode ter irritado, por revelar que ainda o olhavam como criança. Embora, o que realmente incomodou, foi a proximidade da cobrança de uma resposta que se pretendia definitiva.
Então, chegado o momento do vestibular, estivesse você preparado ou não, a pergunta se impôs, categórica e sufocante. A exagerada comemoração quando aprovado, porém, apenas entorpeceu a realidade do seu pouco significado como resposta suficiente a resolver a questão.
Certo ou não da decisão tomada, o fato é que, vez ou outra, no correr dos semestres, você é, ou será, assaltado pela melancolia sinalizando algo faltando ou fora do lugar, quando não poderia estar ausente ou deslocado.
Talvez você acredite que errou na escolha do curso ou carreira. Ou preferirá não pensar, como é mais comum, aprofundando aquele entorpecimento. Mas, pouco importa permanecer onde está ou adotar um novo rumo, se não se toma consciência do que se passa.
Sem isso, aquela sensação não desaparecerá, pelo contrário, torna-se angústia, intensificada à medida que se aproxima o dia da formatura. Verá, então, ela o acompanhar porta afora da cerimônia, ainda que mascarada pelas preocupações do dia-a-dia, supostamente para se “ganhar a vida”.
Só lá à frente, com a aposentadoria em vista ou já conquistada, essa impressão se apresentará definitiva, concreta, inescapável e impossível de ser distraída pelo que chamam de “aproveitar a vida”, com seus mil e um hobbys, viagens, cuidados excessivos com a saúde, etc.
Então, aquela melancolia que um dia alertava, tornada angústia justificada pela correria do cotidiano, o consumirá em amargura, como uma vela prestes a findar sua cera, reluzindo no escuro vazio da alma, outra pergunta ainda mais torturante: “o que você fez da sua vida?”.
No inevitável balanço iniciado, pouco importará o que se alcançou, pois todo dinheiro, fama e poder conquistado será incapaz de compensar o que deveria ter sido e não foi. Nem mesmo um repentino despertar para o valor da família e da amizade conseguirá preencher a profunda solidão que perceberá lhe afogar.
Talvez, aí talvez se perceba que a pergunta que deveria ter sido respondida desde sempre, não foi sequer formulada. Afinal, que valor tem o que, quando não se sabe quem se quer ser? Mas não haverá tempo para ser outro. E agora, José?
Enfim, voltemos ao hoje, onde a própria diferença entre “o que” e “quem” lhe parece confusa, até incompreensível. Por isso, pergunto: e agora, você?
Francisco Escorsim é (de)formado em Direito e editor do site “O Náufrago” .
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